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A ESTRATIFICAÇÃO DE GÊNERO

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Estratificação de Gênero

Sexo e Gênero

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Em todas as sociedades, os indivíduos categorizam-se uns ao outros como masculino ou feminino e, com base nessa distinção, as crenças culturais e normas indicam quais status os homens e as mulheres deveriam ocupar e como elxs deveriam desempenhar os papéis associados com esses status. Tem havido no curso da evolução humana enorme variação no que é definido como adequado aos homens e às mulheres, um fato que indica que distinções entre os sexos são mais socioculturais do que biológicas. Esse processo de definir culturalmente status e papéis adequados para cada sexo é denominado de diferenciação de gênero; e esse conceito deveria ser distinto da diferenciação sexual, que denota as diferenças biológicas entre homens e mulheres.
As duas noções, de sexo e gênero, entretanto, não são tão facilmente separadas porque muito do que a população costuma ver como tendências "naturais", biológicas, dos sexos é culturalmente definido e reforçado através de sanções. As únicas diferenças biológicas claras entre os homens e as mulheres são diferenças geneticamente causadas nas secreções hormonais e seus efeitos no desenvolvimento dos órgãos sexuais e outras características anatômicas (estrutura óssea, percentual de camada de gordura e musculatura). Pode haver outras diferenças fundamentadas geneticamente, mas não há evidências claras para essas. Além disso, até mesmo as diferenças mais inequívocas tornam-se tão elaboradas e impregnadas por crenças culturais e normas, e por papéis sociais e práticas dentro de estruturas sociais, que tornam obscura a fronteira entre o sexo e o gênero.
simbol-hemafroditaA base da noção de sexo socialmente construída é bastante ilustrada por casos nos quais a identidade sexual biológica é ambígua. Por exemplo, em um estudo, crianças que nasceram com os órgãos de ambos os sexos (antigamente chamadas de hermafroditas, atualmente chamadas de intersexuais) empregaram as características sexuais - atitudes, comportamento e preferências sexuais - que refletiram sua socialização pelos pais, tanto masculinos quanto femininos (Ellis, 1945; Money ê Ehrhardt, 1972). Em outro caso elucidativo, uma garota jovem que tinha os órgãos sexuais externos de uma mulher e que fora criada como mulher, sofreu uma mudança de voz na puberdade; um exame médico mais detalhado revelou que "ela era "XY", ou seja, um homem. Informada disso, ela "foi para casa, jogou fora suas roupas de moça e tornou-se um garoto, começando imediatamente a se comportar como os outros garotos" (Reynolds, 1976).
Ou seja, o gênero é mais determinante do que o sexo quando pensamos em assumir papéis. Um indivíduo pode ter nascido do sexo feminino e optar, posteriormente, pelo gênero feminino se tornando, portanto, uma mulher. Outro ponto importante é distinguir gênero de orientação sexual. Embora existam várias orientações sexuais, as mais conhecidas são: homossexuais, heterossexuais e bissexuais. A orientação sexual (e não opção sexual) não é determinada pelo sexo nem pelo gênero. O que determina o seu sexo são suas características biológicas; seu gênero é determinado pelas suas características culturais e sociais; sua orientação sexual se define para qual gênero você tem sua afetividade direcionada.
De um ponto de vista sociológico, então, é melhor nos concentrarmos nos processos de gênero, ou aquelas causas culturais e sociais que afetam os status e os papéis desempenhados por todos na sociedade. Vamos nos concentrar na estratificação de gênero porque esse é o tópico que diretamente afeta tudo em nossas vidas.

A Dinâmica da Estratificação de Gênero

Quando as posições ocupadas por homens e mulheres implicam diferentes quantidades de renda, poder, prestígio e outros recursos de valor, um sistema de estratificação de gênero pode ser considerado existente. Desde que os homens abandonaram a caça e a colheita entre 12 mil a 18 mil anos atrás, a estratificação de gênero existe em todas as sociedades conhecidas. E esse sistema tem favorecido homens, que têm a maior probabilidade em ocupar posições e desempenhar papéis que trazem mais poder, riqueza material e prestígio. Como devemos explicar essa situação?
images-6Teorias funcionalistas buscariam responder essa questão enfatizando que uma divisão de trabalho com base no sexo era mais plausível do que qualquer alternativa para preencher necessidades de sobrevivência de populações humanas primitivas. É mais eficiente, e daí mais adequado, para uma sociedade simples ter mulheres para desempenhar as atividades em torno da educação da criança e afazeres domésticos, enquanto os homens saem para caçar por "esporte" e, mais tarde, lutar em conflitos, pois as mulheres devem parir e amamentar as crianças, e suas atividades domésticas pareceriam fluir "naturalmente" partindo desse "fato" biológico da vida humana.
Em contraste, os homens não podem amamentar uma criança e são, na média, cerca de 15% a 20% maiores do que as mulheres e, assim, é mais "natural" para eles deixarem os acampamentos para caçar e desempenhar outras tarefas que não podem ser feitas por mulheres que amamentam. Uma vez que essa divisão de trabalho existia, tornou-se cada vez mais elaborada e expandida, trazendo desigualdade entre os sexos.
Esse argumento é seriamente falho. Primeiro, as mulheres em muitas sociedades tradicionais fazem a maioria do trabalho pesado e criam os filhos. Ora, uma vez que o modo de vida nômade de caça e coleta foi abandonado e as pessoas se fixaram, por que os homens não poderiam fazer o mesmo e usar seus talentos para criarem filhos e desempenharem tarefas domésticas? Segundo, se os papéis das mulheres são tão funcionalmente importantes, por que elas continuam possuindo menos prestígio, poder e riqueza agora que a era de caça e coleta é passado? Assim, precisamos observar melhor para um entendimento mais completo de como persistiu a estratificação de gênero.
Uma análise possível está na teoria de conflito em que a ênfase é dada ao poder. Porque os homens são um tanto maiores e mais fortes do que as mulheres, pelo menos na média, eles têm usado essa capacidade como coerção para criar e sustentar um sistema de estratificação com base no gênero. Assim, ao longo da história, os homens e as mulheres têm competido por recursos escassos, com os homens no final das contas mantendo uma decisiva vantagem através da coerção. A coerção básica envolvida, é claro, tornou-se mascarada por crenças culturais e normas que fazem parecer "natural" que os homens devam dominar o acesso a recursos de valor.
Apenas na história bem recente essa máscara cultural foi tirada, levando a um movimento social crescente em grande parte do mundo industrial para remodelar a desigualdade entre os homens e as mulheres. Mas ainda há forças poderosas que funcionam para sustentar a estratificação de gênero.
Em um nível cultural as crenças trabalharam contra as mulheres, enfatizando seu caráter doméstico e nutricional (Turner, 1977). Tais crenças foram traduzidas em expectativas normativas sobre as próprias posições (doméstica) e comportamentos de papéis (passivo, nutricional) para as mulheres. Tais símbolos culturais persistem porque xs jovens são socializados por suas famílias, escolas, companheirxs e a mídia para aceitá-lxs.
Quando nasce um bebê, seu sexo é a primeira coisa que os pais desejam saber porque define como eles reagirão à criança e o que eles esperarão dela. As meninas, por exemplo, serão encaminhadas em uma conduta "suave", os meninos em uma "dura" com comportamento mais agressivo; as meninas serão estimuladas a brincar adotando papéis "femininos" (mãe, enfermeira e dona de casa), ao passo que os meninos serão estimulados a adotar papéis "masculinos". Com essa canalização de papéis nas brincadeiras, são comunicadas as definições do que significa ser masculino e feminino.
            Essas mensagens sutis sobre a masculinidade e feminilidade são reforçadas por interações e experiências iguais nas escolas. Em geral, os meninos são estimulados a praticar esportes competitivos, que envolvam agressividade e contato físico ao passo que, apesar de algumas mudanças, as meninas são estimuladas a praticar esportes menos competitivos e menos físicos ou, ainda mais significativamente, papéis de observador/torcedor, em que elas são meros suplementos às atividades masculinas. Interações com iguais reforçam essas diferenças na escola e socialização familiar, como faz a mídia (livros e televisão). O resultado final, como enfatizariam as teorias interacionistas é que os meninos e as meninas (e mais tarde os homens e as mulheres) vêm a definir-se em termos masculino e feminino e buscar status nas estruturas sociais que reforcem essas definições.
Assim, apesar da considerável publicidade feita para mudar os "papéis sexuais", os homens ainda controlam os status de alta renda, de alto poder e de alto prestígio; e eles ainda são capazes de ser evasivos a muito trabalho doméstico, mesmo quando suas esposas trabalham fora. Como isso é possível? A resposta reside na socialização dos homens e das mulheres dentro de crenças sobre feminilidade e masculinidade, e em práticas discriminatórias nos mercados de trabalho. Estas são causas sutis, mas seus efeitos são profundos.
Há, entretanto, sinais de mudança. As mulheres agora estão assegurando, em números dramaticamente crescentes, grau de escolaridade em campos tradicionalmente dominados por homens - administração de empresas, ciência da computação, odontologia, engenharia, direito e medicina. Além disso, leis anti-discriminação têm reduzido a discriminação contra as mulheres em empregos operários dominados pelos homens, embora os homens ainda tenham essas posições de forma esmagadora. Há também sinais de crescimento da participação das mulheres na política. Temos, pela primeira vez na história do Brasil, uma presidenta! Os efeitos a longo prazo dessas mudanças, sem dúvida, alterarão as crenças culturais sobre os papéis adequados tanto para as mulheres quanto para os homens, ao mesmo tempo mudando as divisões do trabalho doméstico. Mas estas serão mudanças relativamente lentas porque os velhos sistemas de símbolos culturais, práticas de socialização, práticas de emprego informais e atividade política são difíceis de alterar.
A estratificação de gênero é sustentada por ciclos que se reforçam mutuamente. As mulheres são identificáveis; apresentam ameaças à dominação masculina de papéis sociais-chave; são sujeitas a crenças preconceituosas sobre sua formação "biológica"; estão expostas a uma longa lista de práticas discriminatórias. E crenças e comportamentos são sustentados pela socialização diferenciada. Como tais ciclos devem ser quebrados? O impulso mais importante tem sido a participação crescente das mulheres na força de trabalho, em que elas garantem, uma vez que" ganham o seu pão", recurso que lhes dá poder para redefinir a identidade de gênero e mudar um pouco a divisão do trabalho doméstico. Por sua vez, a raiva crescente das mulheres, conjugada com o grande tamanho de sua população, levou-as a mobilizações para mudar as crenças preconceituosas (sobre a natureza das mulheres e suas qualidades) e iniciar ação política para reduzir a discriminação.


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