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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Caetano Veloso diz que Rio comete 'violência simbólica' ao proibir máscaras
Músico fala ao Mídia Ninja e propõe que população desobedeça à proposta em tramitação na Assembleia Legislativa fluminense com apoio de Sérgio Cabral
por Redação da RBA publicado 06/09/2013 15:44
CC / MÍDIA NINJA
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Caetano Veloso, em foto para o Mídia Ninja, propõe uso de máscaras no feriado da Independência, em protesto ao governo do Rio
São Paulo – Em vídeo gravado durante sua passagem pela sede do Midia Ninja no Rio de Janeiro, o compositor e cantor Caetano Veloso disse que a cidade pratica uma "violência simbólica" ao proibir o uso de máscaras pelos habitantes e propôs que a população saia às ruas neste 7 de Setembro usando-as como forma de contestar a arbitrariedade. "Pode ser muito bonito", disse o artista.
Caetano Veloso participou de um debate com os integrantes do Midia Ninja carioca sobre manifestações populares, redes sociais. os black blocs e ocupações das ruas pelos movimentos sociais. "Sou um baiano velho, mas moro no Rio há muitos anos. E acho que a cidade aceitar a proibição de máscaras é uma violência simbólica", disse, em depoimento gravado num vídeo e postado pelo coletivo no Facebook.
A proibição está em tramitação na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e tem o apoio de Sérgio Cabral (PMDB), governador que vem sendo o principal alvo dos protestos realizados na capital desde junho.
O vídeo emitido pela Ninja contém ainda opiniões de jovens participantes de manifestações de rua no Rio, que receberam com indignação a proibição, pelo governo do estado, de usar máscaras durante os protestos – forma de atuação policial proposta pelo poder público fluminense prevendo ocorrências nos atos públicos previstos para amanhã, feriado de 7 de Setembro.
"É uma medida ditatorial e anticonstitucional que mostra o desespero desse governante, Sérgio Cabral", disse um dos entrevistados, que teve a identidade mantida sob sigilo. "A Secretaria de Segurança Pública não está preparada para lidar com as manifestações populares. Eu uso máscara porque a gente leva muito gás de pimenta na cara, a gente é fotografado o tempo inteiro por policiais infiltrados. A máscara é uma necessidade", completou.
Caetano também teve uma imagem publicada na página do Mídia Ninja, em que aparece usando máscara, numa imagem que remete ao Black Bloc. "É uma violência simbólica proibir o uso de mascaras. Dia 7 de setembro todos deveriam ir as ruas mascarados!", diz a legenda original da imagem.








Na sociedade em que vivemos, da maneira com que vivemos, os homens são autorizados a pensar e sentir que o corpo das mulheres não vale nada, que as mulheres são menos sujeito do que eles são
Por Jully Soares, no Blogueiras Feministas
Quadro O Rapto das Sabinas, de Pietro da Cortona
Dentre todos os temas de discussão levantados pelas feministas, a violência contra as mulheres, em especial a violência doméstica, continua sendo o tema de maior impacto na sociedade. Seja para vender o seu produto através da “sedução” que a violência é capaz de realizar, seja para realmente provocar a população para perceber a gravidade da questão, a mídia tem colocado a violência contra as mulheres como pauta com bastante frequência, gerando quase um uníssono que diz: “nós não queremos a violência contra as mulheres”.
Às vezes, parece inclusive ser um assunto pautado até demais, podendo fazer algumas pessoas pensarem: “poxa, mas vocês vão falar disso mais uma vez?”. Mas, é interessante perceber que, por mais que se fale no assunto de maneira reiterada, já há décadas, ainda vemos todos os dias a violência sendo praticada contra as mulheres. É incrível, você pode perguntar a cada pessoa que conhece, quase todas dirão que conhecem alguma mulher que viveu ou vive em situação de violência.
http://revistaforum.com.br/wp-content/uploads/2013/11/800px-Cortona_Rape_of_the_Sabine_Women_01.jpgQuadro O Rapto das Sabinas, de Pietro da Cortona
O fato de a violência contra as mulheres persistir, apesar de tantos esforços para freá-la, mostra o quanto está inserida – profundamente – em todas as relações sociais. Na maioria das vezes, pensamos nas mulheres que são agredidas fisicamente por seus parceiros e que denunciam isso ou, simplesmente, não conseguem esconder as agressões. Ou seja, na maior parte das vezes em que o assunto da violência contra a mulher vem à tona, a violência doméstica é aquela que recebe maior atenção.
Bem, talvez os dados do Mapa da Violência de 2012 aliados à vivência diária ajudem a compreender melhor o fenômeno. Em 2011, 71,8% das mulheres que sofreram violência física foram agredidas em suas residências, enquanto 43,4% (a maior porcentagem entre todas as categorias) foram agredidas por seus parceiros ou ex-parceiros. Também os casos de todos os dias, como o da mulher que teve os braços e perna cortados com facão pelo companheiro neste mês ou da que foi morta a marteladas no mês passado deixam a imagem da violência doméstica muito mais evidente para nós.
Entretanto, mais alguns dados do Mapa da Violência revelam ainda um pouco mais o assunto: numa análise quantitativa das mulheres – e meninas – que foram atendidas em 2011, como vítimas de violência física, podemos ver que a partir dos 10 anos os pais (não “pais e mães”; apenas “pais”) são os principais responsáveis pelas agressões. A partir dos 15 anos, pai e mãe deixam de ser os principais perpetradores, “passando a vez” para os namorados, companheiros e maridos das adolescentes e mulheres. A partir dos 60 anos, são os filhos os que assumem lugar de destaque nesse tipo de violência.
Surpresa? É como se ainda estivéssemos em séculos atrás, quando as mulheres pertenciam aos pais – aos homens –, passando depois a pertencer a seus maridos. É como se as mulheres fossem uma coisa formada de carne e de sentimentos de pouco valor. Carne e sentimentos que pudessem ser consumidos, usados ao bel-prazer dos homens, sem consequências. Uma carne que pode ser rasgada, cortada, usada para o prazer dos homens. Sentimentos que não precisam ser levados em conta porque, afinal, “são mulheres”. São “só mulheres.”
Essa outra face da violência, a violência simbólica, que não recebe a mesma atenção da mídia ou das conversas do dia-a-dia é, na verdade, a forma de violência que permite chegar à violência física contra as mulheres. Porque, na sociedade em que vivemos, da maneira com que vivemos, os homens são autorizados a pensar e sentir que o corpo das mulheres não vale nada, que as mulheres são menos sujeito do que eles são. Basta se atentar para a vida cotidiana. Das cantadas que nos fragmentam em peitos e bundas, em objetos de consumo do outro; às cobranças por sexo (mesmo que sem vontade); passando por atitudes que nos colocam como AS responsáveis pelos cuidados das pessoas, dos filhos e filhas, do trabalho doméstico.
O lugar de subalternidade tão conferido às mulheres carrega, na maioria das vezes, uma violência que incide sobre nós: calada, invisível, sorrateira. E, devido ao sexismo de cada dia, bem como ao domínio sobre as mulheres, se sentimos essa violência é porque somos “mulheres”. E se denunciamos essa violência, somos “mulherzinhas”. Se não denunciamos essa violência, somos “mulherzinhas” também.
No final das contas, seremos sempre “mulherzinhas”. Porque seremos sempre menos enquanto a sociedade inteira entender que existem apenas dois sexos (ou dois gêneros) e, que essa dualidade precisa necessariamente ser polarizada entre mais e menos, de maior ou de menor valor. A violência física dói muito, assusta e aterroriza. Mas, enquanto a violência simbólica não for considerada VIOLÊNCIA, a violência física continuará encontrando espaço para se fazer presente das piores maneiras possíveis, todos os dias.
Hoje, 25 de novembro, Dia Latino-Americano e Caribenho de Luta Contra a Violência à Mulhere Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher, precisamos dar atenção ao fato de que as mulheres sofrem violência todos os dias. Todos os dias. Por homens, por mulheres, pela mídia, pelo Estado, pela Igreja… Mas enquanto essas formas de violência simbólica não tiverem importância, dificilmente poderemos erradicar a violência física que também nos assombra diariamente.
—–
Jully Soares é jovem pensadora e militante feminista, negra e bissexual. Escreve no blog Inspiração Política & Literária.










Edição do dia 11/08/2015
11/08/2015 13h19 - Atualizado em 11/08/2015 14h10

Aumenta número de denúncias de violência contra a mulher no Brasil

Ligue 180 recebeu mais de 360 mil denúncias no primeiro semestre.
Mulheres ligam para reclamar da violência e também para pedir ajuda

As mulheres vítimas de violência doméstica estão vencendo o medo e denunciando os agressores. É o que mostra uma pesquisa feita pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República. No primeiro semestre, o ligue 180 recebeu, em média, 84 ligações por hora de mulheres que reclamam de algum tipo de violência ou pedem ajuda.
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A aposentada Rosângela Sá tentava se separar do homem com quem era casada há 21 anos. Em abril de 2009, ele botou fogo no corpo dela.
“Só vi a explosão, engoli aquela bola de fogo, aquele desespero. É tudo tão rápido. Você não entende na hora o que está acontecendo”, conta.
Rosangela teve queimaduras em 65% do corpo. E, ainda na terapia intensiva do hospital, prestou depoimento contra o ex-marido, que tinha fugido. "Ele foi preso em Minas, foi trazido pro Rio, foi julgado em 2011, condenado a 26 anos de prisão, e hoje ele está em Bangu 2", conta Rosângela.
 A Central de Atendimento à Mulher - o ligue 180 - recebeu, nos seis primeiros meses deste ano, mais de 360 mil ligações (364.627). Uma média de 60 mil (60.771) telefonemas por mês.
Em todo o ano passado, foram mais de 480 mil (485.105) atendimentos. Este ano, 32 mil registros foram de violência contra a mulher. A metade desses relatos foi sobre violência física. Em seguida aparecem denúncias de violência psicológica, moral, cárcere privado e violência sexual.
Marisa Chaves de Souza é fundadora de uma ONG que apoia mulheres e crianças vítimas de violência. “A lei Maria da Penha, que acabou de completar nove anos, é uma lei bem avançada, mas que é necessário que ela ultrapasse a questão das medidas protetivas de urgência para que as sentenças condenatórias sejam mais divulgadas para serem exemplos pedagógicos para a sociedade, para que qualquer homem saiba, que bater numa mulher tem uma sanção, tem um custo”, fala Marisa Chaves.
Rosangela já passou por três cirurgias e faz tratamento para amenizar as cicatrizes. Seis anos depois, ela superou a dor física e a psicológica também. “Eu tenho muita vontade de viver. Se eu fosse guardar mágoa dele [agressor], eu não teria sobrevivido”.


foto

Agredida por pai de alunos em 2010, diretora sofre com convulsões

Cartola - Agência de Conteúdo
Especial para Terra
Há três anos a professora Maria Ladjane de Araújo, 53 anos, toma diariamente uma medicação para minimizar as convulsões que sofre em decorrência da violência vivida em outubro de 2010. A gestora da Escola Modelo Infantil Santa Joana, em Caruaru (PE), atravessava a rua quando um homem avançou em sua direção e lhe empurrou. Ela caiu de cabeça no meio-fio, sofreu traumatismo craniano e teve um edema frontal. O agressor é pai de dois alunos que estudavam na instituição.
Na época, a imprensa local noticiou que o homem estaria contrariado por ter sido chamado na escola para conversar sobre o comportamento da filha. Irritado, ele teria discutido com Maria, o que não é confirmado pela professora. "Não houve conversa, ele simplesmente chegou e me agrediu", relata.
Maria foi levada a um hospital no Recife e passou oito dias internada. Perdeu olfato, paladar e teve a audição prejudicada - hoje escuta apenas com o ouvido esquerdo. Com a fala arrastada, a docente conta que, desde o episódio, evita sair na rua e, quando sai, só anda acompanhada. "Meu dia acaba mais cedo. Depois das 20h, quando tomo meu remédio, fico dopada e não consigo fazer mais nada", acrescenta.
Na instituição, a educadora segue no mesmo cargo de três anos atrás, mas confessa que já não consegue cumprir suas funções como antes. "Eu sigo assinando papéis, tomando algumas decisões, mas já não tomo a frente das atividades, conto muito com minha equipe", lamenta. Após a agressão, levou dois meses para voltar ao trabalho.
O agressor aguarda sentença na justiça e cumpre uma medida que o impede de chegar a menos de 500 metros da professora. Em depoimento dado na época, o homem afirmou que tudo não passou de um acidente e que não tinha intenção de machucar a professora. Maria já o conhecia havia oito anos, e afirma que não esperava vê-lo daquela forma. "Ele estava visivelmente descontrolado. Tenho 30 anos de escola e também moro aqui há 30 anos, nunca tinha vivido uma situação como essa. Caruaru inteira ficou revoltada", complementa, lembrando que foi difícil para o pai matricular as crianças em outro colégio, tal era a indignação da população. "Ele destruiu minha vida, mas destruiu a dele também. Ele sabe que a família dele sofreu com essa situação", diz



















Doenças Ocupacionais
Violência psicológica atinge jovens em ambiente profissional
http://www.protecao.com.br/upload/protecao_noticia/3634.jpg
Data: 03/04/2012 / Fonte: Agência USP de Notícias 
São Paulo/SP- Em uma pesquisa realizada entre 2009 e 2010 na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, a psicóloga Samantha Lemos Turte avaliou experiências de assédio moral relatadas por adolescentes trabalhadores e concluiu que eles não só estão expostos a situações constrangedoras, como também não sabem lidar com elas. O estudo foi orientado pela professora Frida Marina Fischer, do Departamento de Saúde Ambiental da FSP.

O incentivo ao início da vida profissional já na adolescência é uma prática propagada, inclusive, com implementação de leis, como a Lei nº 10.097, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece, entre outras coisas, que empresas tenham em seu corpo de funcionários um mínimo de 5% de menores aprendizes. Para Samantha, o interesse em promover a saúde no trabalho é primordial, uma vez que neste local adultos e jovens dispensam considerável parte do seu dia. Diante disso, a pesquisadora levantou a necessidade de avaliar se trabalhadores jovens saberiam reconhecer violência psicológica no seu cotidiano corporativo.

Dentre 40 adolescentes entrevistados para a pesquisa, a maioria com idade inferior a 18 anos, foram reconhecidas situações que podem ser compreendidas como violência psicológica.

Ainda que alguns tivessem sido respeitados, outros reclamaram de humilhações e imposições sofridas. Entre alguns abusos detectados, estavam desde constrangimentos provocados por outros funcionários da empresa até a realização de funções para as quais não foram contratados.

Para Samantha, o mais preocupante é a banalização das condições ruins de trabalho às quais tanto adultos quanto crianças estão submetidos. É comum ouvir que trabalhar é ruim, as coisas não são fáceis, etc e, com isso, perde-se a noção de que a promoção da saúde mental deve ser estendida ao ambiente profissional. "Naturalizamos problemas do trabalho e irradiamos na nossa vida pessoal", diz a pesquisadora.

A pesquisadora também contou que os adolescentes não sabiam reconhecer, sem uma explicação prévia, se haviam sido vítimas de violência psicológica. Quando eram informados da definição do termo, faziam um paralelo desta com o bullying, prática de agressão comum entre crianças na idade escolar.

Segundo o estudo, os jovens que sabiam o que era assédio moral e o reconheciam, tinham mais segurança em defender-se da prática e reclamar por seus direitos. Para a psicóloga, discutir na escola questões relativas aos limites das relações interpessoais no trabalho, à saúde e às formas de violência evitaria que os jovens sofressem estes abusos, e lhes daria argumentos para se proteger. Com esses conceitos bem definidos, "nos tornaríamos protagonistas na promoção da saúde", diz Samantha.

Entrevistas

Inicialmente, a psicóloga procurou uma Organização Não Governamental (ONG) especializada em preparar e encaminhar jovens residentes da Zona Sul de São Paulo entre 15 e 20 anos para o mercado, inclusive com promoção de cursos. Esses cursos abrangem conceitos técnicos de áreas administrativas, inglês, linguagem, matemática, informática e noções de direitos como cidadão e deveres com a sociedade.

Há três tipos de jovens vinculados à associação: aqueles que não estão no mercado de trabalho e, portanto, frequentam diariamente as aulas preparatórias; aqueles que trabalham como jovens aprendizes, possuem vínculo empregatício com a empresa correspondente, ou seja, têm carteira de trabalho assinada, e frequentam uma vez por semana as aulas da ONG; e aqueles que estão contratados como estagiários nas empresas, com contratos sem vínculo empregatício, e frequentam as aulas uma vez por mês.

Assim que participam das atividades reservadas ao primeiro grupo, os jovens são encaminhados para empresas parceiras da ONG, cadastradas para implementar essa mão de obra.

Os jovens selecionados para a pesquisa eram provenientes do segundo e terceiro grupo e que já estavam empregados no mínimo seis meses. Foram realizadas entrevistas, tanto individuais quanto em grupo, além de um questionário, para detectar se estes jovens sofriam assédio moral ou outro tipo de violência psicológica no trabalho, e, mais importante, se sabiam reconhecer tal ato.

A intenção era determinar se os jovens que frequentavam as aulas na ONG uma vez por semana saberiam reconhecer e lidar com assédio moral de forma mais efetiva do que os que frequentavam a ONG apenas uma vez por mês. Por haver menores de idade no grupo estudado, termos de consentimento foram assinados pelos pais dos participantes.


Foto: 
www.primeirahora.com.br
















Especialistas esclarecem o que está por trás das violências invisíveis – psicológica, moral e patrimonial -, que atinge três em cada cinco mulheres brasileiras
“Louca.” “Puta.” “Fiz por amor.” “Incapaz.” “Ninguém vai acreditar.” Falas como estas fazem parte do cotidiano de milhões de brasileiras. Segundo relatório da ONU, três em cada cinco mulheres sofreram, sofrem ou sofrerão violência em um relacionamento afetivo no Brasil – e nem todas as feridas aparecem. São as cicatrizes das violências invisíveis – psicológica, moral e patrimonial –, também conhecidas como relacionamento abusivo, que cala e aprisiona.
Uma campanha lançada, nesta terça (27), pela ONG Artemis, em parceria com a marca Lush, pretende jogar luz sobre uma realidade tão comum, mas ainda bastante desacreditada pela sociedade e pelo sistema judiciário. Diante disso, Raquel Marques, presidente da Artemis, Silvia Chakian, promotora de justiça e coordenadora do Grupo Especial de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher (GEVID), e Alice Bianchini, doutora em direito penal e membro da Comissão da Mulher Advogada do Conselho Federal, reuniram uma série de fatos capazes de esclarecer este tipo de agressão.
1. O relacionamento abusivo ainda é visto como uma simples briga de casal
A Lei Maria da Penha compreende que violência doméstica é “Qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”. E para configurar a violência, nos termos da Lei, ela não precisa ser continuada, nem atual, nem duradoura, bastando que exista uma relação afetiva entre a vítima e o agressor, mesmo que não residam no mesmo local.
“Apesar de todo esse esclarecimento, ainda tem sido muito difícil lidar com o machismo institucional, dentro do sistema de justiça”, aponta Silvia Chakian. “Vejo diariamente vítimas sendo desacreditadas em juízo e questionadas exaustivamente nas delegacias. Como se a mulher, por ser mulher, não fosse digna de crédito. Ela é confrontada, questionada e cobrada com uma coerência absurda e impossível de ser conhecida. O depoimento de quem sofre esse tipo de violência é muito marcado por incoerências, lapsos de memória, falas entrecortadas – próprios do pós-trauma. Deparamos-nos então com a recorrente revitimização e descrédito.”
Ainda segundo a promotora, quando uma mulher decide romper com o silêncio, a primeira reposta que ela vai receber, seja na delegacia, no ministério público ou em um centro de referência, pode ser determinante para que nunca mais busque ajuda e acredite que seu destino é viver em um relacionamento violento.
2. Ciúme pode não ser saudável, mas sinônimo de controle
Os sinais que antecipam um relacionamento abusivo às vezes podem ser sutis. Hoje, muitas mulheres ainda tendem a acreditar que um relacionamento sem ciúme, é uma relação sem amor. “O problema é que muitas vezes esse ciúme vem camuflado de zelo e cuidado, e não parece controle”, alerta Silvia.
“Quando um namorado diz para a namorada, ‘troque essa saia, porque assim você não vai sair comigo’, o problema não é a roupa. A mensagem que fica neste relacionamento é: quem mandar e quem obedece”, explica a promotora. “Mulheres tendem a minimizar o comportamento violento e a não interpretar a conduta abusiva como violência. Muitas vezes elas se responsabilizam – ‘Eu sou difícil’, ‘Estava nervosa’, ‘Realmente provoquei’ -, como se tivessem contribuído ou até mesmo merecido a agressão que não necessariamente é física.”
Em alguns casos, diz, a responsabilização pela conduta violenta é relacionada a fatores externos, como o consumo de álcool ou outras drogas. “Já ouvi vítima dizer: ’Ele me agrediu porque estava nervoso, porque bebeu’. Não, a motivação da violência de gênero é interna. O sujeito quando enche a cara no bar não agride o amigo, ele espera chegar em casa para violentar a companheira.”
3. Por que é tão difícil romper com o ciclo de violência?
“O ciclo de violência leva anos para ser rompido, em alguns casos chega a levar até dez anos”, diz Alice Bianchini. “E ela costuma ser gradativa, até alcançar seu ápice, que vem acompanhado de uma fase de reconciliação e promessas, que logo são quebradas, e assim o ciclo recomeça.” E a tolerância social com relação à violência contra a mulher é um dos impedimentos para a quebra deste circuito perigoso.
Uma pesquisa do Ipea de 2013 diz que 65,3% da população brasileira concorda com a seguinte frase: “Mulher que apanha e continua com o companheiro gosta de apanhar”. De encontro a esta estatística está uma pesquisa de 2015 realizada pelo Senado Federal. Um levantamento feito com vítimas de violência doméstica apontou que 24% delas se mantêm no relacionamento por preocupação com a criação dos filhos, enquanto 21% diz temer uma vingança por parte do agressor. Precisamos dar fim aos estereótipos de gêneros.
4. O feminicídio costuma ser o resultado de um ciclo violento de relacionamento abusivo
Uma pesquisa da ONU constatou que o Brasil é o quinto país do mundo com maior taxa de homicídio de mulheres – fim trágico de um longo histórico de violência. “O feminicídio não acontece abruptamente”, conta Raquel Marques. “Ele nunca é um episódio isolado na vida de uma mulher. A violência se desenvolve em uma escalada dentro de um relacionamento”, acrescenta Silvia.
O machismo e a misoginia predominantes no comportamento social, segundo elas, contribuem diretamente para esse índice. “Vivemos em uma sociedade que mata mulheres quando elas violam uma das duas leis do patriarcado. A primeira delas é a da submissão e a segunda é a da fidelidade. Em pleno século 21, nós ainda temos que lutar pelo direito do ‘não’ ser respeitado e isso está por trás dos assassinatos”, explica Silvia.


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