1º BIMESTRE
Por
que somos como somos? Por que agimos como agimos? Principais dúvidas que
norteiam o pensamento sociológico, principais premissas. A sociologia é o
estudo da vida social humana, dos grupos e das sociedades, e, seu objeto de
estudo é nosso próprio comportamento como seres sociais.
Para
compreendermos de que trata a sociologia temos que nos distanciar de nós
mesmos, temos que nos considerar seres humanos entre os outros. Na verdade a
sociologia trata dos problemas da sociedade e a sociedade é formada por nós e
pelos outros. Aquele que estuda e pensa a sociedade, o sociólogo, é ele próprio
um dos seus membros.
Justamente,
a sociologia nos mostra a necessidade de assumir uma visão sobre por que somos
como somos e por que agimos como agimos, ela nos ensina que aquilo que
encaramos como natural, inevitável, bom ou verdadeiro, pode não ser exatamente
assim, afinal nem tudo é o que parece ser, e que os “dados” de nossa vida são
fortemente influenciados por forças históricas e sociais.
Aprender
a pensar sociologicamente , significa, antes de tudo, cultivar a imaginação, um
sociólogo é alguém que é capaz de se libertar da imediatidade das
circunstâncias pessoais e apresentar as coisas num contexto mais amplo.
A
imaginação sociológica (Mills, 1970), exige de nós que pensemos fora das
rotinas familiares de nossas vidas cotidianas , a fim de que as
observemos de modo renovado.( Giddens, A. Sociologia, Porto Alegre:
Artmed, 2005).
Como
seriam suas respostas se alguém lhe fizesse as seguintes perguntas:
—
Por que o Brasil é visto como um país em desenvolvimento, para não dizer
atrasado, em relação aos países mais ricos, mesmo sendo uma das maiores
economias do mundo?
—
Por que o homem moderno cada vez mais se faz prisioneiro do trabalho?
—
Apesar de tanta riqueza produzida pelo trabalho no sistema capitalista, por que
se tem, em boa parte dos países, a maioria dos trabalhadores em situação de
pobreza?
Talvez
você consiga dar boas respostas às perguntas acima, apontando, inclusive, as
origens dos problemas questionados, porém, outros, não tendo argumentos para
dar boas respostas, diriam:
“eu
acho que...”.
com
certeza você já ouviu a frase: “Quem acha, pode não saber muita coisa”
Todos
podemos ir além do que já sabemos, ou “achamos” saber sobre nossa sociedade. E
o papel da Sociologia como disciplina é justamente nos ajudar nesse sentido: a
percebermos, por exemplo, que fatos considerados naturais na sociedade, como a
miséria de muitos, o enriquecimento de poucos, os crimes, os suicídios,
enfim, a dinâmica e a organização social podem não ser tão naturais assim.
Os
questionamentos apresentados acima, poderão ser elucidados pelas teorias, pelas
perspectivas (visões) teóricas sociológicas, que nos ajudarão a ver nossa
sociedade de maneira muito mais crítica e com base científica.( Sociologia / vários autores. –
Curitiba: SEED-PR, 2006.2ª edição, Governo do Estado do
Paraná).
Desenvolvendo uma perspectiva sociológica
Considere
o ato de tomar uma xícara de café, o que poderíamos dizer, a partir de um ponto
de vista sociológico sobre esse exemplo de comportamento aparentemente comum,
simples, desinteressante?
Muitas
coisas… poderíamos ressaltar que o café não é apenas uma bebida, ele possuí
valor simbólico como parte de nossas atividades sociais diárias, para muitos a
xícara de café matinal ocupa o centro de uma rotina pessoal, ela é um primeiro
passo essencial para começar o dia. Durante o dia muitos tomam café acompanhados
de uma ou mais pessoas como parte de um ritual social, duas pessoas que
combinam se encontrar para tomar um café, estão provavelmente mais interessadas
em ficarem juntas, a manter uma conversa, do que na bebida propriamente.Comer e
beber em todas as sociedades, fornece ocasiões para a interação social e para a
encenação de rituais.
Outro ponto: o café é uma droga, por conter cafeína, substância altamente estimulante, que consumida em doses excessivas pode fazer mal, muitas pessoas bebem café pelo estímulo extra que esta bebida propicia. O café causa dependência, mas os viciados em café não são vistos como usuários de drogas; assim como o álcool o café é uma droga socialmente aceita, inclusive, mas recentemente comprovou-se que pode contribuir para elevar os níveis de concentração, melhorar a memória e diminuir os níveis de colestorol, contudo mesmo assim, não devemos aconselhar o consumo excessivo desta bebida.
Mais
uma questão: um indivíduo que bebe café é apanhado em uma complicada trama de
relacionamentos sociais e econômicos que se estendem pelo mundo.O café é uma
bebida consumida desde os mais pobres até os mais ricos em diversas partes do
mundo, é consumido em grandes quantidades nos países ricos, contudo cultivado
nos países mais pobres, apesar da oscilação no mercado devido a inúmeros
fatores, o café ainda é, ao lado do petróleo e de outros produtos, uma das
mercadorias mais valiosas no comércio internacional. A produção, o
transporte e a distribuição de café requerem transações contínuas entre pessoas
a milhares de quilômetros de distância de seu consumidor. Estudar essas
transações globais é uma importante tarefa da Sociologia.
Outra:
O café é um produto que permanece no centro dos debates contemporâneos sobre
globalização, comércio internacional, direitos humanos e degradação/destruição
ambiental, o café tornou-se uma marca e politizou-se: o consumidor pode
escolher qual tipo de café beber e onde adquiri-lo, tornou-se estilo de vida.Os
indivíduos podem escolher entre beber somente café orgânico, café naturalmente
descafeinado, ou café comercializado “honestamente” (através de esquemas que
pagam integralmente o preço de mercado a pequenos produtores de café em países
em desenvolvimento), podem optar por ser clientes de cafeterias independentes ao
invés de “cadeias corporativas” de café como a Starbucks, os consumidores de
café podem boicotar o café vindo de certos países que violam os direitos
humanos e acordos ambientais.Os sociólogos buscam compreender como a
globalização aumenta a consciência das pessoas acerca de fatos que vem
ocorrendo em diversas partes do mundo, estimulando-as, construindo
conhecimentos sobre assuntos até então desconhecidos, e a construir uma
perspectiva crítica acerca de assuntos que influenciam suas vidas direta ou indiretamente.
Quando
alguém começar uma resposta com as palavras “eu acho que...”, esta resposta
pode não ser satisfatória, ou corresponder as nossas expectativas acerca do
assunto tratado. O que não significa, porém, que ela deva ser rejeitada, ela
precisa ser apurada, refinada. Por exemplo, se alguém nos perguntasse por que
em um mesmo país, observamos realidades sociais tão distintas, poderíamos
responder com base em dados, na história, na geografia etc., enfim poderíamos
oferecer uma resposta certeira, ou apenas responder “eu acho que...” baseados
no chamado senso comum.
Existem
muitas outras coisas que acontecem na sociedade e que nos atingem diretamente.
E para todas essas coisas seria muito bom que tivéssemos curiosidade para saber
se aquilo que é mostrado é realmente como é. E a Sociologia?
A
sociologia contribui para que possamos entender um pouco mais o lugar onde
vivemos…
O senso comum não
deve ser rejeitado, entretanto, você pode ir além desse conhecimento comum,
neste caso, sobre a sociedade. Todos nós somos sociólogos, de uma forma ou de
outra, pois estamos constantemente refletindo acerca de nossas experiências,
analisando os nossos comportamentos e o comportamento dos outros.Avançar um
pouco mais em relação a um conhecimento elaborado e investigativo vai nos
trazer um entendimento mais claro sobre como funciona a sociedade, dentre
outras coisas.
Além
do fato de que você terá maior autonomia para CONCORDAR
OU DISCORDARsobre as questões que você vive na
sociedade e não será influenciado pelo bombardeio de informações parciais
oferecidas pela mídia.Essa é a independência que queremos: A DE REFLEXÃO.
Surgimento da Sociologia: A “Gênesis Sociológica”
Recorrendo
à História:
Podemos
dizer que o início do sistema capitalista se deu na chamada Baixa Idade Média,
entre os séculos IX e XV, na Europa Ocidental. A partir do século XI, com as
“cruzadas” realizadas pela Igreja Católica, para conquistar Jerusalém que
estava dominada pelos muçulmanos, um canal de circulação de riquezas na Europa
foi aberto.
O
contato cultural e o comércio do ocidente com o oriente europeu foram retomados
via Mar Mediterrâneo. Com a movimentação de pessoas e riquezas houve, na Europa
Ocidental, o surgimento de núcleos urbanos, conhecidos por burgos. Destes,
surgiram as cidades, pois existiam poucas naquele tempo.
As
chamadas corporações de ofício, que eram uma espécie de associação comercial da
época que organizava as atividades artesanais para ter acordo entre os preços
de venda e qualidade do produto, por exemplo, começaram a aparecer a fim de
regular o trabalho dos artesões que vinham para as cidades exercer sua
profissão, a idéia do lucro se fortalecia.
Mais
tarde, os europeus começaram a explorar o comércio em termos mundiais,
principalmente depois dos séculos XV e XVI e das chamadas Grandes Navegações.
Por exemplo, com o descobrimento da América, muita riqueza daqui era levada à
Europa para a criação de mercadorias que seriam vendidas nesse mercado mundial
que estava surgindo. A idéia de uma produção em série de mercadorias começava a
surgir.
As
antigas corporações de ofício foram transformadas pelos comerciantes da época em
manufatura. O trabalho manufatureiro acontecia com vários
artesãos, em locais separados e dirigidos por um comerciante que dava a eles a
matéria-prima e as ferramentas. No final do trabalho encomendado, os artesões
recebiam um pagamento acertado com o comerciante.
Os
comerciantes (futuros empresários capitalistas) pensaram que seria melhor
reunir todos esses artesãos num só lugar, pois assim poderiam ver o que eles
estavam produzindo. Além de cuidar da qualidade do produto, o controle sobre a
matéria-prima e o ritmo da produção poderia ser maior.
Foi
então que surgiu a idéia da fábrica, um
lugar com uma produção mais organizada, com a acentuação da divisão de funções
(hierarquização), onde o artesão ia deixando de participar do processo inteiro
de produção da mercadoria e onde passava a operar apenas parte da produção.
Desse ponto para a implantação das máquinas movidas a vapor, restava somente o
tempo da invenção das mesmas. Quando o inventor escocês James Watt (1736-1819)
conseguiu patentear a máquina a vapor, em abril de 1784, ela veio dar grande
impulso à industrialização que se instalava, aumentando a produção, diminuindo
os gastos com mão-de-obra e aumentando o acúmulo de capital.
O
sistema feudal da Europa Ocidental, estava sendo superado. Ele não conseguiria
suprir as necessidades dos novos mercados que se abriam. O sistema capitalista,
com base na propriedade privada dos meios de produção e no lucro, isto é, na
acumulação de capital, estava sendo consolidado.
A
partir da Revolução Industrial (século XVIII), as cidades da Europa Ocidental
começavam a se transformar em grandes centros urbanos comerciais e,
posteriormente, industriais. Muitas delas “intumescidas” e repletas de
desempregados. O estilo de vida das pessoas estava se transformando – para
alguns de forma violenta e radical – como era o caso de muitos camponeses que
eram expulsos pelos senhores das terras onde trabalhanvam que estavam seguindo
a política de “cercamentos” de terra, para criar ovelhas e fornecer lã às
fábricas de tecidos.
Já
no caso dos artesãos, esses “perdiam” sua qualificação profissional e o
controle sobre o que produziam, ou seja, de profissionais, passavam a “não ter
profissão”, pois a indústria era quem ditava que tipo de profissional precisava
ser. Não importava se fossem grandes artesãos, só precisariam aprender a operar
a máquina da fábrica, como não tinham capital para ter uma produção autônoma e
competir com a fábrica, submetiam-se ao trabalho assalariado.
Novas
e grandes invenções estavam sendo realizadas no campo tecnológico, como as
próprias máquinas a vapor das indústrias. O comércio mundial estava aumentando
cada vez mais. E em meio a isto, duas classes distintas emergiam: a composta
pelos empresários e banqueiros, chamada de classe burguesa, e a classe
assalariada, ou proletária.
A
classe burguesa é aquela que ao longo do tempo veio acumulando capital com o
comércio e reteve os meios de produção em suas mãos, isto é, as ferramentas, os
equipamentos fabris, o espaço da fábrica, etc. ou seja, eram os donos dos meios
de produção,e também detinham o poder político. Já a classe proletária, sem
capital e expropriada dos meios de produção por meio de sua expulsão dos feudos
e das terras comuns, tornava-se fornecedora de mão-de obra aos donos das
fábricas.
O
quadro social na Europa Ocidental do período passava, então, por transformações
profundas, provocadas pela consolidação do sistema capitalista, pela
valorização da ciência contrapondo as explicações míticas a respeito do mundo,
pela abertura de mercados mundiais e pelas divergências ocasionadas pelas
péssimas condições de vida dos operários, confrontadas com o enriquecimento da
classe burguesa. É em meio a todas essas mudanças que a Sociologia começa a ser
pensada como sendo uma ciência para dar respostas mais elaboradas sobre os
novos problemas sociais.
A
Sociologia e suas teorias, se constituem como ferramentas de reflexão sobre a
sociedade industrial e científica que surgia. Sociologia / vários autores. – Curitiba:
SEED-PR, 2ª edição, Governo do Estado do Paraná, 2006.)
0 comentários:
Postar um comentário