História da Filosofia
De origem grega, a palavra filosofia significa amor à
sabedoria. Na história da filosofia desde a Antiguidade, a
surpresa e o espanto perante o mundo levam o homem a formular questões sobre a
origem e a razão do Universo e a buscar o sentido da própria existência. Todos
os aspectos da cultura humana podem ser objeto de reflexão. A questão central
de cada corrente filosófica está inserida na estrutura econômica, social e
política de determinado momento histórico.
A palavra filosofia é utilizada pela primeira vez
por Pitágoras,
por volta do século VI a.C., quando se dá a passagem do mundo mítico para a
consciência racional. Nessa época surgem os primeiros sábios (sophos, em grego),
principalmente nas cidades jônicas que estabeleceram relações comerciais com o
Oriente.
HISTÓRIA DA FILOSOFIA PRÉ-SOCRÁTICA
Pré-socráticos são
os filósofos anteriores a Sócrates que
viveram na Grécia por volta do século VI a.C., considerados os criadores da
filosofia ocidental. Essa fase, que corresponde à época de formação da
civilização helênica, se caracteriza pela preocupação com a natureza e o cosmo.
Ela inaugura uma mentalidade baseada na razão e não mais no sobrenatural e na
tradição mítica. As escolas jônica, eleática, atomista e pitagórica são as
principais do período.
Os físicos da Jônia, como Tales de Mileto,
Anaximandro, Anaxímenes e Heráclito,
procuram explicar o mundo pelo desenvolvimento de uma natureza comum a todas as
coisas e em eterno movimento. Heráclito afirma a estrutura contraditória e
dinâmica do real. Para ele, tudo está em constante modificação. Daí sua frase “Não
nos banhamos duas vezes no mesmo rio”, já que nem o rio nem quem nele se banha
são os mesmos em dois momentos diferentes da existência. Os pensadores de Eléa,
como Parmênides e Anaxágoras, ao contrário, dizem que o ser é unidade e
imobilidade e que a mutação não passa de aparência. Para Parmênides, o ser é
ainda completo, eterno e perfeito. Os atomistas, como Leucipo e Demócrito,
sustentam que o Universo é constituído de átomos eternos, indivisíveis e
infinitos reunidos aleatoriamente.
Pitágoras afirma que a verdadeira substância original é a
alma imortal, que preexiste ao corpo e no qual se encarna como em uma prisão,
como castigo pelas culpas da existência anterior. O pitagorismo representa a
primeira tentativa de apreender o conteúdo inteligível das coisas, a essência,
prenúncio do mundo das idéias de Platão.
HISTÓRIA DA FILOSOFIA CLÁSSICA
A filosofia da Grécia antiga teve nos sofistas e em Sócrates seus
principais expoentes. Eles se distinguem pela preocupação metafísica, ou
procura do ser, e pelo interesse político em criar a cidade harmoniosa e justa
que tornasse possível a formação do homem e da vida de acordo com a sabedoria.
Esse período corresponde ao apogeu da democracia e é marcado pela hegemonia
política de Atenas.
Os sofistas, como Protágoras de Abdera e Górgias de
Leontinos, são educadores pagos pelos alunos. Pretendem substituir a educação
tradicional, destinada a preparar guerreiros e atletas, por uma nova pedagogia,
preocupada em formar o cidadão da nova democracia ateniense. Com eles, a arte
da retórica – falar bem e de maneira convincente a respeito de qualquer assunto
– alcança grande desenvolvimento.
Conhecido somente pelo testemunho de Platão, já que não
deixou nenhum documento escrito, Sócrates desloca a reflexão filosófica da
natureza para o homem e define, pela primeira vez, o universal como objeto da
ciência. Dedica-se à procura metódica da verdade identificada com o bem moral.
Seu método se divide em duas partes. Pela ironia (do grego eironéia,
perguntar) ele força seu interlocutor a reconhecer que ignora o que pensava
saber. Descoberta a ignorância, tenta extrair do interlocutor a verdade contida
em sua consciência (método denominado maiêutica).
Discípulo de Sócrates, Platão afirma que as idéias são o
próprio objeto do conhecimento intelectual, a realidade metafísica. Para melhor
expor sua teoria, utiliza-se de uma alegoria, o mito da caverna, no qual a
caverna simboliza o mundo sensível, a prisão, os juízos de valor em que só se
percebem as sombras das coisas. O exterior é o mundo das idéias, do
conhecimento racional ou científico. Feito de corpo e alma, o homem pertenceria
simultaneamente a esses dois mundos. A tarefa da filosofia seria libertar o
homem da caverna, do mundo das aparências para o mundo real, das essências.
Aristóteles aperfeiçoa
e sistematiza as descobertas de Platão e Sócrates. Desenvolve a lógica dedutiva
clássica, que postula o encadeamento das proposições e das ligações dos
conceitos mais gerais para os menos gerais. A lógica, segundo ele, é um
instrumento para atingir o conhecimento científico, ou seja, aquilo que é
metódico e sistemático. Ao contrário de Platão, afirma que a idéia não possui
uma existência separada – ela só existe no ser real e concreto.
HISTÓRIA DA FILOSOFIA PÓS-SOCRÁTICA
Até o início da Era Cristã, as correntes filosóficas do
ceticismo, epicurismo e estoicismo traduzem a decadência política e militar da
Grécia.
Primeira grande corrente filosófica após o aristotelismo, o
ceticismo afirma que as limitações do espírito humano não permitem conhecer
nada seguramente. Assim, conclui pela suspensão do julgamento e permanência da
dúvida. Ao recusar toda afirmação dogmática, prega que o ideal do sábio é o
total despojamento, o perfeito equilíbrio da alma, que nada pode perturbar.
Epicuro e seus seguidores, os epicuristas, viam no prazer,
obtido pela prática da virtude, o bem. O prazer consiste no não-sofrimento do
corpo e na não-perturbação da alma. Os estóicos, como Sêneca e Marco Aurélio,
pregam que o homem deve permanecer indiferente a circunstâncias exteriores,
como dor, prazer e emoção. Procuram submeter sua conduta à razão, mesmo que
isso traga dor e sofrimento, e não prazer.
No século III da Era Cristã, Plotino pensa o platonismo na
perspectiva histórica do Império Romano. As doutrinas neoplatônicas têm grande
influência sobre os pensadores cristãos.
HISTÓRIA DA FILOSOFIA MEDIEVAL
Ao retomar o platonismo, o teólogo romano Santo Agostinho
identifica o mundo das idéias com o mundo das idéias divinas. Pela iluminação,
o homem recebe de Deus o conhecimento das verdades eternas. Essa corrente é
conhecida como patrística por ser elaborada pelos padres da Igreja Católica.
Entre os séculos V e XIII predomina a escolástica, conjunto das doutrinas
oficiais da Igreja, influenciadas pelos pensamentos de Platão e Aristóteles. Os
representantes da escolástica estão preocupados em conciliar razão e fé e
desenvolver a discussão, a argumentação e
o pensamento discursivo. Uma das principais correntes filosóficas da época é o
tomismo, doutrina escolástica do teólogo italiano Santo Tomás de Aquino. (Ver Filosofia
Medieval)
HISTÓRIA DA FILOSOFIA MODERNA
A desintegração das estruturas feudais, as grandes
descobertas da ciência e a ascensão da burguesia assinalam a emergência do
Renascimento. Em contraste à filosofia medieval, dogmática e submissa à Igreja,
a filosofia moderna é profana e crítica. Representada por leigos que procuram
pensar de acordo com as leis da razão e do conhecimento científico,
caracteriza-se pelo antropocentrismo – que considera o homem o centro do
Universo – e pelo humanismo.
O único método aceitável de investigação filosófica é o que
recorre à razão. René Descartes, criador do cartesianismo, é considerado o
fundador da filosofia moderna. Ele inaugura o racionalismo, doutrina que
privilegia a razão, considerada alicerce de todo o conhecimento possível. Ao contrário
dos antigos pensadores que partiam da certeza, Descartes parte da dúvida
metódica, que põe em questão todas as supostas certezas. Ocorre a descoberta da
subjetividade, ou seja, o conhecimento do mundo não se faz sem o sujeito que
conhece. O foco é deslocado do objeto para o sujeito, da realidade para a razão
(“Penso, logo
existo“).
Além do racionalismo, as principais correntes da filosofia
moderna são o empirismo e o idealismo, movimentos que têm relação com a
ascensão da burguesia e com a Revolução Industrial.
No século XVII, o inglês Francis Bacon esboça as bases do
método experimental, o empirismo, que considera o conhecimento como resultado
da experiência sensível. Na mesma linha estão Thomas Hobbes, John Locke e
David Hume.
SÉCULO XVIII
O racionalismo cartesiano e o empirismo inglês preparam o
surgimento do iluminismo no século XVIII. Immanuel Kant deseja fazer a síntese
do racionalismo e do empirismo a partir de uma análise crítica da razão. Supera
esses dois movimentos ao afirmar que o conhecimento só existe a partir dos
conceitos de matéria e forma: a matéria vem da experiência sensível e a forma é
dada pelo sujeito que pensa.
O idealismo consiste na interpretação da realidade exterior
e material a partir do mundo interior, subjetivo e espiritual. Isso implica na
redução do objeto do conhecimento ao sujeito conhecedor. Ou seja, o que se
conhece sobre o homem e o mundo é produto de idéias, representações e conceitos
elaborados pela consciência humana. Um dos principais expoentes é o alemão
Friedrich Hegel. Para explicar a realidade em constante processo, Hegel
estabelece uma nova lógica, a dialética. Defende que todas as coisas e idéias
morrem. Essa força destruidora é também a força motriz do processo histórico.
SÉCULO XIX
O positivismo do francês Auguste Comte considera apenas o
fato positivo (aquele que pode ser medido e controlado pela experiência) como
adequado para estudo. O método é retomado no século XX, no neopositivismo,
representado pelo austríaco Ludwig Wittgenstein.
Ainda no século XIX, Karl Marx utiliza o método dialético e
o adapta à sua teoria, o materialismo histórico, que considera o modo de
produção da vida material como condicionante da história. O marxismo propõe não
só pensar o mundo mas transformá-lo. Assim formula os princípios de uma prática
política voltada para a revolução.
Nessa época surgem também nomes cuja obra permanece isolada,
sem se filiar a uma escola determinada, como Friedrich Nietzsche. Ele elabora
uma crítica aos valores tradicionais da cultura ocidental, como o cristianismo,
que considera decadente e contrário à criatividade e à espontaneidade humana. A
tarefa da filosofia seria, então, libertar o homem dessa tradição. No fim do
século XIX, o pragmatismo defende o empirismo no campo da teoria do
conhecimento e o utilitarismo (busca a obtenção da maior felicidade possível
para o maior número possível de pessoas) no campo da moral. Valoriza a prática
mais do que a teoria e dá mais importância às conseqüências e aos efeitos da
ação do que a seus princípios e pressupostos.
HISTÓRIA DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
No século XX, vários pensadores reinterpretam o marxismo,
como o húngaro Gyorgy Lukács, o italiano Antonio Gramsci, os franceses Henri
Lefebvre, Louis Althusser e Michel Foucault e os filósofos ligados à Escola de
Frankfurt. Paralelamente, o tcheco Edmund Husserl dá início à fenomenologia,
que tenta superar a cisão entre racionalismo e empirismo. Consiste no estudo
descritivo dos fenômenos, ou seja, das coisas como são percebidas pela consciência,
que são diferentes das coisas em si mesmas. Seus seguidores são Martin
Heidegger, Maurice Merleau-Ponty e os filósofos do existencialismo, como
Jean-Paul Sartre, que consideram a existência humana o primeiro objeto da
reflexão filosófica (“a existência precede a essência”).
Com o avanço da ciência e da tecnologia, e o maior domínio
do homem sobre a natureza, a epistemologia, estudo crítico de princípios,
hipóteses e resultados das ciências, alcança grande desenvolvimento. O
estruturalismo surge a partir da pesquisa de duas ciências humanas: a
lingüística, com o suíço Ferdinand de Saussure, e a antropologia, com Claude
Lévi-Strauss. O estruturalismo parte do princípio de que há estruturas comuns a
várias culturas, que precisam ser investigadas independentemente dos fatores
históricos.
Autoria: Gean Massaro
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